19/02/2014

SOMOS TODOS MACACOS

*Por Marcos Teixeira

AS REGRAS DO BOM SENSO LHE ROGAM: SE NÃO SABE LER, NÃO LEIA.



Ontem chamaram o Tinga de macaco, Mas por quê?
Qual macaco realmente usaram no exemplo?
Será que tenha sido porque ele é preto?
Mas existe uma infinidade de espécies de macacos brancos!
Olha... Vamos ser sinceros. Estava assistindo o jogo pela TV e não consegui identificar até hoje, mesmo depois de repetidas exibições, qual era realmente o som que a torcida tentava emitir.
A verdade é que o preconceito, especificamente o racismo, é algo tão intrínseco a nossa sociedade, que chega a ser traumático, e se você encarar por alguma razão uma pessoa negra , mesmo que seja contemplando a sua beleza ( característica da pessoa negra, no meu ver) ela já se sentirá ofendida. Qual a diferença entre o “negro macaco” e o “galego sarará”? Há sentido pejorativo nas duas expressões, mas certamente o negro sentir-se-á muito mais ofendido. E a ofensa se dá pela carga de preconceito que o negro recebeu durante anos na nossa cultura colonialista, principalmente nas senzalas e mocambos e nas cozinhas das sinhás em época recente, porém remota para os que não conhecem por pura ignorância ou por falta de acesso ao conhecimento, a história recente desse país.
O negro brasileiro sente-se perante a sociedade, inferiorizado. E esse sentimento é fruto da inferiorização que lhe foi imposta pelo regime escravocrata europeu, que durante séculos o tratou como produto, o vendeu, o trocou por fumo, açúcar, ouro, madeira e etc.. E ainda firmou entendimento entre os membros da elite de que eles não tinham alma, eram bichos e assim por diante... E o pior, educou os negros que cresceram sob sua influência, dessa mesma maneira, coisa que ao longo dos anos, os próprios negros, sem acesso ao conhecimento, passaram também a acreditar que não eram gente.
Pela teoria Darwiniana da evolução das espécies a espécie humana nada mais é que o produto de milhares de anos de mutações genéticas decorrentes de um processo natural, que transformou macacos em homens. A clássica gravura que tenta explicar parte desse processo de evolução inicia-se por um símio pouco desenvolvido e vai evoluindo até um parecido com a espécie humana atual, como muitos viram nos livros de história e/ou ciências que geralmente tratam do assunto. E cá pra nós, não só há lógica, como semelhanças impressionantes entre as duas espécies. (ou será só uma?).
A corrente que defende a teoria da evolução é muito grande. Cientistas renomados acreditam piamente sermos frutos desse processo. Tão grande é que divide a comunidade científica mundial entre os evolucionistas e os criacionistas. Os estudos foram muitos profundos e séculos de pesquisas não foram ainda suficientes para dirimir as dúvidas. De tal forma, não sabemos ao certo de onde adviemos: se do sagrado barreiro, onde Deus nos moldou e nos deu um sopro vital, ou se da evolução genética e do aperfeiçoamento característico a toda espécie.
Se dividíamos o éden em sua tranquilidade paradisíaca ou a selva primitiva, saltando de galho em galho e enfrentando feras terríveis pela sobrevivência e aperfeiçoamento da espécie.
Agora voltemos ao Tinga. Convenhamos que não constituiria ofensa alguma nos tacharmos de macacos, uma vez que somos “simiodescendentes”.
O porco, o urubu, o timbu, o galo, a raposa, a macaca, o carcará, a águia, são só alguns dos animais que recheiam a simbologia do futebol tupiniquin... Mas por que essa cisma com o macaco. Será que se um torcedor do Vasco, por exemplo, imitar um urubu, que além de preto come carniça, o Negueba e o Feijão vão se sentir inferiorizado.
De que lado está o preconceito?
Dos peruanos contra o Tinga, ou do Tinga contra nossos fiéis ancestrais?
E Darwin, o que diria disso?
O negro se inferioriza quando admite politica de cotas nas universidades públicas, se declara incapaz e preenche formulários para atestar sua inferioridade e sai feliz, quando adentra ao universo acadêmico coroado pela sua suposta incompetência ( e ele próprio assim se supõe). Legitima o preconceito quando se inferioriza pelo “ulular” pejorativo de uma massa de miseráveis ignorantes da periferia das periferias da América Latina, tão miseráveis de espírito e de educação que vão aos estádios se “esguelarem” e engordarem cada vez mais a conta bancária de cartolas e mafiosos do futebol, esse esporte de massa que anestesia tantos miseráveis mundo a dentro, principalmente os de baixa renda e baixa educação. Onde negros, brancos e amarelos nada mais são do que palhaços de um circo lucrativo da elite dominante.
Você há de convir que há macacos muito mais bonitos do que Tinga, do que Eu e do que você e de que a espécie humana, que não se sente animal, está vivendo uma época de tanta maldade e de tanta fuga, que quem deveria se sentir ofendido era o macaco por tão perniciosa comparação. (não com o Tinga, mas com a espécie).
Na verdade o preconceito incrustrado nessa sociedade é contra todos os que são pobres ou oriundos da preza . Estádios já gritaram em coro por várias vezes “ burro, burro, burro” com técnicos e cartolas e num futebol de Pato, Ganso, Caça-Rato, Gabirú e tantos outros, um bicho a mais, mesmo que seja um macaco não nos fará qualquer diferença.
Avante Tinga, pois sem rancor ou preconceito, somos todos macacos, nem que pra isso precisemos superar o Peru.
Salve Charles Darwin e seus estudos evolucionistas!


Marcos Teixeira, é acadêmico, sociólogo , poeta e repentista de Cuité-RN. Acredito que nosso maior erro é legitimar e dar força a preconceitos ultrapassados e parece-me que quando damos eco a esse tipo de comportamento é por que somos, nós mesmos, preconceituosos.                                                                                                                                                                        

                                                                                                                   




Texto de Marcos Teixeira




Tenho Dito,


Beto Nazário


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